Quantas vezes o cansaço e a desmotivação nos assustam…! Será que estou a ficar com depressão? E combatemos a maldita e ameaçadora depressão! Trabalhamos mais, fazemos mais, vamos mais, resistimos mais.
E ficamos mais cansados, com mais desmotivação, com sinais de perda cognitiva, como menos atenção, menos memória, menos concentração, menos agilidade. Será que estou mesmo a ficar com depressão? E, aí, também se instala a ansiedade, o medo; a fuga é mais intensa, o stress aumenta e a saúde continua a ceder. Mas, mesmo assim, tantas vezes nos sentimos ingratos ao assumir um estado de cansaço, de desmotivação temporária, de intolerância, de necessidade de parar? Afinal, quem corre por gosto não cansa!
Mito.
O cansaço existe. Pode ser “só” cansaço. Ou melhor: o cansaço pode ter sido o motivador de uma situação mental e emocional mais débil! Sentirmo-nos cansados não é um direito sequer, é uma natureza; e descansar não é sinal de ingratidão, de depressão, de preguiça. Descansar é a resposta natural (e a mais eficiente) ao cansaço.
Salvaguardas: 1) pode ser preciso avaliar clinicamente o cansaço. O cansaço também pode ser um sinal clínico, uma manifestação, um sintoma, dependendo de como apareça, de como se instale e de como nos afete; 2) Descansar pode não ser suficiente nem eficiente se, por exemplo, descansamos a pensar que não devíamos estar a descansar… comum, não é? Ou se descansamos para depois retomar o ritmo que nos desgastou.
No fundo, é importante entender e permitir sentir que o cansaço é natural, tanto quanto é importante ter ao dispôr estratégias para lidar com estas dinâmicas naturais do nosso organismo e regulá-las. É importante apelar ao descanso, à lentidão, à calma, à respiração consciente, porque…
Todos nos cansamos, até quem corre por gosto!
Sofia Leite
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