Ansiedade e stress são termos que usamos comummente para descrever sensações físicas e mentais semelhantes. De facto, ambas partilham uma reação corporal de estado de alerta, sentida como um aperto, um sobressalto e/ou um bloqueio. Muitas vezes, ansiedade e stress psicológico frequentes são sensações-gatilho que nos fazem querer iniciar uma transformação para lidar melhor com a vida. Mas, apesar de estarem correlacionados e de se manifestarem numa forma de sentir semelhante, são fenómenos diferentes na sua natureza, que implicam diferentes abordagens para uma transformação eficaz. Como distingui-los?
Ansiedade é uma fuga para a frente no sentido de saltarmos para o futuro, tentando antever todas as ameaças que poderão surgir. O nosso corpo reage a este medo, mas não está, de facto, perante o objeto causador de medo. Do ponto de vista da pessoa ansiosa, conscientemente ou não, a estratégia mais sensata para lidar com uma “ameaça que está no futuro” é não avançar para o futuro, evitá-lo. Então, a ansiedade é uma fuga para a frente na mente e uma fuga para trás na ação, no corpo. Enquanto a mente avança no tempo, nas hipóteses, nas congeminações, o corpo recua, recusa-se a avançar no tempo e nas decisões. Mas o tempo passa na mesma e instala-se a sensação de que não se desfruta da vida, não se vive, e a ansiedade acentua-se. Aparece o ataque de pânico: mais do que o medo de morrer, é o medo de não viver enquanto se está vivo. Assim, a ansiedade e o pânico requerem um trabalho psicoterapêutico relacionado com “o medo que está no presente acerca do que pode acontecer lá na frente”. Ao mesmo tempo, é um trabalho de sossegar e nutrir e harmonizar todo o aparelho físico, emocional e cognitivo de deteção e reação à ameaça.
Já o stress psicológico é o resultado de um estado de saturação. Somos um reservatório de energia em circulação (ou em interação com o meio). Somos um equilíbrio entre o que recebemos, o que damos, o que descarregamos e o “espaço que sobra” para que estas interações aconteçam com “espaço para manobras”. Imaginemos um parque de estacionamento. Somos o parque. Quanto mais espaço para circulação, mais fácil é acomodar novas entradas e permitir saídas. Carros entram; carros saem; circulam; a vida é o próprio movimento. Há espaço para entrar um carro maior, um camião, por vezes, e até estacionar por uns tempos. Talvez este camião seja algo que recebemos e sentimos como uma carga. É natural haver momentos de maior carga nas nossas vidas. Mas mais carros continuam a entrar e estacionam. Não saem. Não descarregamos, não aliviamos carga. Começa a dar-se congestionamento. No corpo e na mente, este congestionamento é o stress psicológico. Acontece quando nos vemos perante a necessidade de dar resposta a muitas solicitações do dia-a-dia e sentimos não ter o tal “espaço de manobra”. O stress psicológico relaciona-se com esta imagem de poucos lugares livres para dar resposta a eventos da vida.
O corpo que vive com esta mente em stress psicológico é um corpo também em constante estado de alerta. Mas a solução não está em retirar-se deste panorama de stress psicológico por uns dias e depois regressar a ele de “baterias carregadas”, como numas férias de sonho, pois o resultado é previsível: assim que regressarmos, será pouco tempo até que a mesma saturação e o mesmo cansaço se instalem na mesma dinâmica de stress. A solução está no reconhecimento dos elementos de carga e na mudança pequena e permanente, consistente, coerente, no dia-a-dia, de maneira a aliviar/gerir essa carga. Está na perseverança e regularidade com que executamos as pequenas mudanças que nos vão dando mais e mais espaço, paulatinamente. Está no acreditar, esperar e ter paciência em ver os resultados surgir. A solução está em nutrir o foco da resolução do problema, ativar a iniciativa, e identificar as mudanças que são possíveis (por vezes, pequenas mudanças são essenciais e as mais produtivas) e executá-las com continuidade, paciência e determinação. Está no ajuste de crenças e no descortinar de emoções e sentimentos que as mantêm, no sentido de termos espaço para mudanças comportamentais.
O que complica estes cenários é que, normalmente, stress psicológico e ansiedade andam de mãos dadas. Um corpo/mente em stress psicológico tem tendência para se sentir protegida quando tenta antever e planear com detalhe o futuro, tentando imaginar tudo o que pode e não pode acontecer: ansiedade. Vice-versa, um corpo/mente em ansiedade tem dificuldade em descarregar a carga, portanto, é natural e previsível que carga a mais venha a criar um cenário de “congestionamento”: stress psicológico. De qualquer forma, é necessário distinguir os fenómenos para os abordar correta e eficazmente.
No caminho de resolução de ansiedade e/ou stress psicológico, a orientação psicológica/psicoterapêutica ensina-nos, em primeiro lugar, a identificar aquilo que sentimos; a distinguir sensações, emoções, sentimentos, pensamentos, expectativas, a ativar soluções adequadas para cada fonte de desconforto e a desenvolver pontos de apoio, conforto e segurança que funcionem como recursos e nos amparem. Ajuda-nos, também, a perceber que estamos prontos. É no momento que reconhecemos que algo não está como devia ser que estamos prontos para o transformar.
Texto de Sofia Leite
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